Farmácia à base de ervas cuidada por crianças produz chás e xaropes gratuitos na periferia de Fortaleza

 Farmácia à base de ervas cuidada por crianças produz chás e xaropes gratuitos na periferia de Fortaleza
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Problemas de saúde como a gripe costumam aumentar no Ceará durante a quadra chuvosa. Não é surpresa que espirros, tosses e narizes entupidos costumam ser mais comuns em dias de chuva. Por isso, o tratamento medicinal alternativo, principalmente à base de plantas, apresenta-se como importante complemento aos medicamentos tradicionais. Assim, as Farmácias Vivas servem como aparato para o plantio, cuidado e produção de fitoterápicos aos mais variados fins.

No Bairro Jangurussu, em Fortaleza, uma horta medicinal cuidada, principalmente, por crianças (com supervisão de adultos) funciona como “laboratório” para a produção de chás, lambedores e xaropes que beneficiam a própria comunidade envolvida no processo de criação. O projeto existe há dez anos e a nomenclatura homenageia o falecido professor da Universidade Federal do Ceará, Francisco José de Abreu Matos, que dedicou a vida e a pesquisa acadêmica aos benefícios do uso de plantas medicinais.

“As crianças participam do plantio, do cuidado, de tudo. A nossa é a do tipo 1. Quem participa leva lambedor, leva outras coisas. Mas só quem participa no sentido de cuidar, plantar e fazer quase tudo”, explica Célia Silva, coordenadora da Farmácia Viva Professor José de Abreu Matos.

“O que o pessoal pede mais é babosa, cidreira (que é calmante), capim-santo, a corama, o guaco e a malva porque fazem lambedores para soltar a secreção”, revela a coordenadora. Contudo, Célia explica que apenas as pessoas que participam das ações recebem os produtos feitos. “Eu chamo e digo ‘vamos fazer um lambedor para tosse. Quer participar?’. Se vem participar, leva. Ninguém faz para dar ‘por dar’. E também, se alguém que participa precisar de alguma folha, a gente dar. Mas para quem participa”, reforça a voluntária.

O Ceará é pioneiro na regulamentação do uso, através do Sistema Único de Saúde (SUS), de plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia. Atualmente, essa prática é voltada, principalmente, às Farmácias Vivas, projetos governamentais ou não, para o plantio, cultivo e extração de flora para fins medicinais.

“As Farmácias Vivas são unidades farmacêuticas instaladas em comunidades governamentais ou não governamentais, onde seus usuários recebem medicação preparada com plantas que tiveram confirmação da atividade a elas atribuídas, colhidas nas próprias hortas, que permitem a seus usuários, o acesso a um elenco de plantas verdadeiramente medicinais e seus produtos”, explica a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa).

De acordo com a professora Mary Anne Medeiros Bandeira, coordenadora do programa no Ceará, em 2017, foi realizado um diagnóstico das farmácias vivas no estado, e 99 unidades foram registradas. Dentro desse total, 58 foram catalogadas como governamentais, e as outras 26 estavam sob responsabilidade de organizações não governamentais (ONGs), e outras 15 faziam parte de instituições de ensino superior. A coordenadora não soube precisar o número de farmácias vivas funcionando atualmente.

“Muitas vezes, as farmácias vivas sofrem descontinuidade política. Por exemplo, um gestor implanta uma farmácia viva, mas o outro que entra não dá continuidade, por questão política ou financeira”, comenta Mary Anne.

Para dar continuidade aos projetos de farmácias vivas de maneira mais concreta, no último dia 29 de abril, foi lançado o edital convocando as secretarias municipais para inscrever projetos de instalação e implementação de farmácias vivas à Secretaria de Saúde estadual. Além das farmácias, a publicação contempla Organizações de Arranjos Produtivos Locais (APL), instituições que trabalham com orientação à população para o plantio e cuidado de plantas medicinais nas próprias residências.

“Com esse processo a gente quer firmar um acordo mais seguro com os secretários de saúde dos municípios, para que isso não acabe. A gente tem uma verba para auxiliar na implantação da farmácia viva, e a continuidade seria com o próprio município. A gente também pode ajudar na implantação em municípios que já possuem farmácia viva”, comentou Andréa Ramalho, titular do Núcleo de Fitoterápicos (Nufito), da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (Coasf).

De acordo com a coordenadora do Nufito, a publicação de 2019 faz parte de um processo que iniciou em 2016 com verba federal, do Ministério da Saúde, de R$ 1 milhão. A Sesa tem até 2020 para investir todo o repasse, mas a coordenadora não precisou quanto foi gasto até agora.

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